Já me não convém o título de homem livre
Sou um mero bloco orgânico esculpido pelas relações sociais
Querem-me resistente como um diamante
No entanto, sou apenas grafite, frágil,
Um simples alótropo sujeito às forças elétricas
tipicas da hibridação sp2
Esperam ver em mim a singularidade de Camões
A unicidade de Drummond
E o brilho extasiante de Guimarães Rosa
Todavia, sou um mortal comum
Exigem-me o conhecimento de tudo
Sim, de tudo mesmo !
Impõem-me que eu saiba física,
porém é difícil entender a realidade
quando se vive dentro de um buraco negro
Sim, caro leitor, a sociedade capitalista
apresenta uma força gravitacional
muito maior que a de Newton
Em meio a tantas vicissitudes,
tomar uma atitude é equivalente a ser
herege na Idade Média
Dessa forma, faz-se que nem os monges:
Esconde-se os tesouros intelectuais e culturais
Para os reis da mídia, é imperativo alienar
Sim, nobre leitor, eles adoram teatro !
Controlar mentes proporciona-lhes um prazer
não encontrado em nenhuma droga existente
O poder é o ópio que os apodrece
Há um quê de Efeito Dorian Gray neles
No final das contas, almejo um carpe diem
com um quê de romantismo, e uma pitada
de simbolismo, e a ousadia da primeira geração
modernista, e a modernidade contemporânea, e,
às vezes, a racionalidade parnasiana
Sou, de fato, um fractal interminável
A cada análise, relevo-me ainda mais estonteante
O difícil é inferir isso em meio a um ambiente
paupérrimo de reflexão.