quarta-feira, 22 de junho de 2011

Compressão mesológica

    Já me não convém o título de homem livre
    Sou um mero bloco orgânico esculpido pelas relações sociais
    Querem-me resistente como um diamante
    No entanto, sou apenas grafite, frágil,
    Um simples alótropo sujeito às forças elétricas
    tipicas da hibridação sp2
    Esperam ver em mim a singularidade de Camões
   A unicidade de Drummond
   E o brilho extasiante de Guimarães Rosa
   Todavia, sou um mortal comum
   Exigem-me o conhecimento de tudo
   Sim, de tudo mesmo !
   Impõem-me que eu saiba física,
   porém é difícil entender a realidade
   quando se vive dentro de um buraco negro
   Sim, caro leitor, a sociedade capitalista
   apresenta uma força gravitacional
   muito maior que a de Newton


    Em meio a tantas vicissitudes,
    tomar uma atitude é equivalente a ser
    herege na Idade Média
    Dessa forma, faz-se que nem os monges:
    Esconde-se os tesouros intelectuais e culturais


    Para os reis da mídia, é imperativo alienar
    Sim, nobre leitor, eles adoram teatro !
    Controlar mentes proporciona-lhes um prazer
    não encontrado em nenhuma droga existente
    O poder é o ópio que os apodrece
    Há um quê de Efeito Dorian Gray neles


   No final das contas, almejo um carpe diem
   com um quê de romantismo, e uma pitada
   de simbolismo, e a ousadia da primeira geração
   modernista, e a modernidade contemporânea, e,
   às vezes, a racionalidade parnasiana


   Sou, de fato, um fractal interminável
   A cada análise, relevo-me ainda mais estonteante
   O difícil é inferir isso em meio a um ambiente
   paupérrimo de reflexão.