quarta-feira, 13 de julho de 2011

Poema de Cecília Meireles

Boa tarde a todos !


Não os atormentarei mais com os dizeres de que eu estou sem inspiração ou sem tempo para fazer texto. Para os que acompanham o blog, isso se tornou senso comum de tal forma que afirmar que eu não valorizo esse meio de comunicação passou a caracterizar um pleonasmo vicioso. E eis aí mais uma incoerência. Bom, melhor eu ficar quieto. Na falta de um texto melhor, deliciem-se com Cecília Meireles:


Mulher ao espelho



Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.